sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Índios do Oiapoque


*A região do Baixo Oiapoque, no Amapá, é uma área cultural indígena, de configuração antiga, marcada por trocas e intercâmbios entre vários povos que, mesmo falando línguas diferentes, compartilham várias formas de expressão cultural: Karipuna, Galibi Marworno, Galibi Kali’na e Palikur.
Cada um desses povos apresenta variações dessa tradição cultural mais ampla, mantendo uma identidade própria. Vivem na região mais de sete mil índios, habitando 37 aldeias em três terras indígenas demarcadas.
Nos últimos anos, os índios do Oiapoque vêm se mobilizando em torno de ações de valorização de seus conhecimentos e práticas. Mestres artesãos e artesãs tem ensinado a pessoas mais jovens os conhecimentos técnicos e as habilidades artísticas na fabricação de artefatos, sempre marcados de sentido e desejo de beleza.
Um resultado importante desse movimento de valorização de patrimônios culturais próprios foi a criação do Museu Kuahí dos Povos Indígenas do Oiapoque, em 2007.





Cuias e colheres

Fabricas cuias é uma atividade feminina, motivo de orgulho das artesãs que as confeccionam, guardam, usam ou dão de presente. Os desenhos gravados nas cuias se inspiram em temas ligados a mitologia ou à natureza, a este e a “outros mundos”: representam escamas e espinhas de peixe, cascos de tartaruga, teias de aranha, pelos de porcos do mato, folhas de palmeiras-açaí, estrelas-d’alva, nuvens matinais, caminhos etc.
No dia-a-dia, as cuias são usadas para comer ou para servir farinha, tapioca, tucupi, açaí, bacaba, tacacá, e também pegar água ou para guardar miudezas como sementes ou miçangas. As cuias maiores são para servir o xibé (bebida refrescante e nutritiva de água e farinha) ou o caxiri (bebida fermentada) durante as festas do Turé ou do Divino Espírito Santo.
As colheres são artefatos típicos da região do Uaçá, de origem crioula. Os homens as fabricam com madeira de jenipapo e as mulheres as pintam com cumatê, tinta extraída da casca de uma árvore. A concha de forma oval representa a cabeça de um peixe, cobra ou ave, e a de forma arredondada, uma cabeça de macaco. As colheres maiores são utilizadas no preparo da comida para as grandes festas ou assembléias.




A festa do turé

Na cosmologia dos povos indígenas do Oiapoque, há dois domínio de moradas dos seres: Este Mundo, onde estão todos os seres visíveis, e o Outro Mundo, lugar das pessoas invisíveis que moram em rios, lagos, mares, montanhas ou céus – Karuanã, que têm forma de animais ou plantas e só são vistos como gente pelos pajés.
Os pajés descrevem os Karuanã como mulheres e homens muito bonitos, donos de belos paramentos, cantos e grafismos doados aos índios por seu intermédio. Os Karuanã ajudam os pajés a combaterem as enfermidades, e , em retribuição, se lhes oferece uma grande festa, com muita dança, cantos e caxiri: o turé.
A festa do turé é realizada periodicamente entre setembro e novembro, quando as chuvas escasseiam. É o momento em que toda a comunidade se reúne, dança, canta e bebe muito caxiri. Fazem parte do turé, os mastros enfeitados e os grandes bancos da cobra-grande, onde se sentam os convidados. Junto ao mastro, fica o banco do pajé, com seu maracá e seus cigarros. Os participantes bebem e oferecem grandes quantidades de caxiri aos seres invisíveis que vêm se alegrar na festa e ouvir o pajé. Este canta durante várias noites sem repetir as canções. Cada canto é uma chamada que homenageia e convida um espírito específico a aparecer durante o turé.




(*Todos os textos desse post foram retirados da exposição Artefatos Indígenas)
(* Créditos das fotos: Gabriela Caetano)


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