sábado, 26 de novembro de 2011

Preparando e Organizando as ideias: Produção Indígena é arte?

A sessão Preparando e Organizando as Ideias, trás hoje uma questão para ser pensada e discutida. A produção de objetos indígenas é arte?

Se pensarmos que Arte é uma categoria criada pelo homem ocidental, (e aqui, temos que entender qual homem ocidental estamos tratando: europeu, branco, classe dominante historicamente) e que, mesmo no ocidente, o que deve ou não deve ser considerado arte está longe de ser um consenso, o que podemos dizer da aplicação desse termo em manifestações plásticas de povos que nem ao menos possuem palavra correspondente em suas respectivas línguas?

* Imagem retirada do site do Instituto Socioambiental


Encontramos um texto sobre essa questão no site do Instituto Socioambiental. Abaixo um trecho:


O assunto é complexo e, a despeito da inadequação do termo, muitas obras indígenas têm impactado a sensibilidade e/ou a curiosidade do “homem branco” desde o século XVI, época em que os europeus aportaram nas terras habitadas pelos ameríndios. Nesse período, objetos confeccionados por esses povos eram colecionados por reis e nobres como espécimes “raros” de culturas “exóticas” e “longínquas”.

Até hoje, uma certa concepção museológica dos artefatos indígenas continua a vigorar no senso comum. Para muitos, essas obras constituem “artesanato”, considerado uma arte menor, cujo artesão apenas repete o mesmo padrão tradicional sem criar nada novo. Tal perspectiva desconsidera que a produção não paira acima do tempo e da dinâmica cultural. Ademais, a plasticidade das obras resulta da confluência de concepções e inquietações coletivas e individuais, apesar de não privilegiar este último aspecto, como ocorre na arte ocidental. Confeccionados para uso cotidiano ou ritual, a produção de elementos decorativos não é indiscriminada, podendo haver restrições de acordo com categorias de sexo, idade e posição social. Exige ainda conhecimentos específicos acerca dos materiais empregados, das ocasiões adequadas para a produção etc.


Outras leituras
Para saber mais sobre o assunto, ver o artigo de Lúcia Hussak van Velthen, “Em outros tempos e nos tempos atuais: arte indígena”, no catálogo Artes Indígenas - Mostra do Redescobrimento, Fundação Bienal de SP (2000), e o livro Grafismo Indígena: Estudos de Antropologia Estética, organizado por Lux Vidal, Edusp/Nobel (2001)




E você, o que pensa? Como levar essa discussão para a sala de aula? Como tratar a questão indígena através da arte? Que relações de semelhanças e diferenças podemos fazer sobre essa questão, se pensarmos numa história da arte não linear, que está fora dos livros tradicionais da arte?

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Missão de Pesquisas Folclóricas

Parte integrante do Acervo Histórico da Discoteca Oneyda Alvarega, a Missão de Pesquisas Folclóricas foi idealizada e organizada por Mário de Andrade no período em que o escritor esteve à frente do Departamento de Cultura de São Paulo. A Missão tinha como objetivo investigar aspectos formadores da identidade nacional e em 1938, uma equipe chefiada pelo engenheiro e arquiteto Luís Saia percorreu o Norte e o Nordeste do Brasil para registrar suas manifestações culturais e folclóricas, em especial de dança e música. Na bagagem, trouxeram instrumentos musicais, objetos de culto, peças utilitárias, fotos, reproduções de desenhos, gravações musicais e filmes. A equipe de pesquisadores não só registrou em discos o folclore musical dessas regiões como colheu informações complementares às gravações, que possibilitaram uma visão ampla do contexto sócio-econômico cultural das regiões visitadas.



Material apreendido em Xangôs pela polícia.  

Várias peças foram doadas à Missão de Pesquisas Folclóricas - mar/1938
Recife (PE) . Fotógrafo: Luis Saia


A Missão visitou cinco cidades em Pernambuco, dezoito na Paraíba, duas no Piauí, uma no Ceará, uma no Maranhão e uma no Pará. Assistiram a representações de Bumba-meu-boi, Nau Catarineta, Cabocolinhos, Maracatu, Tambor-de-Criola, Tambor-de-Mina, Praiá, Aboios, Cocos, Catimbó, Sessões de Desafio, Xangôs , Cantigas de Roda, de Ninar, Cantos de Trabalho, Cantos Religiosos, Cateretê, Barca, e muitos outros.


Grupo de “carregadores de piano” - 18/fev/1938

Recife (PE) . Fotógrafo: Luis Saia


Além dos discos registrados, contendo perto de 1.500 melodias, a Missão trouxe na sua bagagem 1.126 fotografias, 17.936 documentos textuais (cadernetas de anotações, cadernos de desenhos, notas de pesquisas, notações musicais, letras de músicas, versos da poética popular e dados sobre arquitetura), 19 filmes de 16 e 35 mm, mais de mil peças catalogadas entre objetos etnográficos, instrumentos de corda, sopro e percussão.


Roda. 07/abr/1938
Patos (PB) . Fotógrafo: Luis Saia


Coube à pesquisadora Oneyda Alvarenga organizar todo o material, incluindo a catalogação de todos os objetos, fonogramas, filmes e fotografias e a elaboração de um fichário com possibilidade de recuperação das informações espalhadas nos diferentes suportes. Oneyda também transcreveu manuscritos extraídos das próprias cadernetas de campo ou de folhas avulsas e outros documentos e reuniu a documentação que garantiu a operacionalização da viagem como cartas de apresentação, instruções, listagem de equipamento, notas de serviços e a documentação sobre seu andamento, correspondências e notícias de jornal.

Bumba-meu-boi
João Marcos Ferreira, Pedro Gomes da Silva. 08/abr/1938
Patos (PB) . Fotógrafo: Luis Saia


O conjunto coletado vem demonstrando, mais de setenta anos depois, a importância dos documentos preservados, tendo sido objeto de dissertações, teses, livros, discos e obtido o reconhecimento internacional pela sua importância. O tombamento dos registros da Missão de Pesquisas Folclóricas foi aprovado como patrimônio imaterial pela comissão de Avaliação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN. Além disso, em 2009 o acervo documental da Missão foi nominado pelo Comitê Nacional do Brasil do Programa Memória do Mundo da Unesco no Registro Nacional do Brasil.



Créditos:
Texto retirado do site
Fotos retiradas do site

sábado, 5 de novembro de 2011

Os Wayana e os Aparai

Abaixo o texto sobre os índios Wayana e Aparai, que pode ser encontrado na exposição Artefatos Indígenas, no Pavilhão das Culturas Brasileiras.




 Os Wayana e os Aparai são dois povos indígenas de língua Caribe que somam cerca de 750 indivíduos. Habitam três territórios, no Brasil, na Guiana Francesa e no Suriname. Aqui, ocupam duas terras indígenas no extremo norte do Pará, com 21 aldeias ao longo do rio Paru d'Este. Apesar das origens distintas, os dois povos mantêm estreita convivência há mais de um século, o que gerou certa homogeneidade cultural, sem eliminar as especificidades de cada grupo.

Compartilham uma longa história de migrações e de acolhimento de indígenas de outros povos fugidos de missões religiosas do rio Oiapoque e de colonizadores. Hoje, vivem em terra firme, próximos às corredeiras, onde praticam uma agricultura de baixo impacto ambiental, caça e pesca.

Os Wayana e os Aparai mantêm viva sua cultura por meio da reprodução de grafismos que incorporam elementos de seus mitos e celebram criaturas dos tempos antigos. Uma conhecida narrativa descreve como os desenhos foram vistos e copiados da pele pintada de um ser chamado Tulupel (em Wayana) ou Oruko (em Aparai), associado tanto a uma lagarta (larva) ou lagarto sobrenatural, quanto a uma serpente descomunal.

Os desenhos e aquilo que eles representam podem ser pintados, entretecidos com miçangas, gravados em madeira, trançados em arumã ou desenhados em papel com lápis ou caneta.


Máscaras Tamok

A cestaria Wayana e Aparai

Toda a cestaria é feita pelos homens. As técnicas utilizadas permitem traçar 32 tipos de diferentes objetos com trançados variados: cestos, abanos, tipitis, esteiras e peneiras.
Os cestos com trançado aberto são mais fáceis de fazer; os de trançado fechado exigem um longo aprendizado.
Dentre todos os artefatos feitos pelos Wayana e Aparai, os cestos são os que tem o maior número de grafismos, pois os trançados de arumã representam a própria pele da lagarta sobrenatural.



Cestaria

As rodas de teto

No centro de cada aldeia Wayana ou Aparai é construída uma casa cerimonial destinada às atividades coletivas, reuniões, festas, rituais ou a fabricação de objetos. É também ali que são acolhidos e hospedados os visitantes. Antigamente, esse era o local onde se enterravam os chefes e suas mulheres.
Diferentemente das casas de moradia, essa é circular e tem um teto muito alto. O esteio central é arrematado por uma grande roda, que representa uma arraia sobrenatural.
A roda de teto é feita da raiz de sumaúna e, sobre uma base enegrecida com fuligem, os grafismos são pintados com corantes naturais. Eles se distribuem como na pintura corporal da arraia e representam outros seres sobrenaturais em forma de lagarta, araras-peixe e tartarugas. Esses animais estão associados a diferentes esferas da cosmologia Wayana e Aparai.
As bordas da roda de teto são pintadas com triângulos que representam as borboletas que aparecem nas praias dos rios quando começa o verão.

Rodas de teto


* crédito das fotos: Gabriela Caetano
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